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Foto de Tânia Paes |
Cinco de agosto de 1962: o mundo recebia, com
surpresa e incredulidade, a notícia de que Marilyn Monroe, uma das maiores
estrelas do cinema americano, havia sido encontrada morta em sua casa de
Beverly Hills, na Califórnia. Aos 36 anos de idade, no auge da beleza e da
popularidade, Marilyn, mais do que qualquer uma antes ou depois dela, tinha sim
saído da vida para entrar na história. Suas constantes crises de depressão, o
romance-relâmpago com o homem mais famoso do mundo, o presidente americano
John Fitzgerald Kennedy, o casamento com Arthur Miller, o dramaturgo mais
prestigiado dos Estados Unidos, os filmes de sucesso, o tardio
reconhecimento da crítica, as imagens inesquecíveis e icônicas exploradas
impiedosamente até hoje, o incomparável apelo sexual e principalmente as
circunstâncias misteriosas de sua morte, jamais esclarecidas, alimentam até
hoje a sobrevida do maior mito que a indústria do show business foi capaz de
produzir.
Cinco de agosto de 2014:
exatos 52 anos após sua morte, Marilyn Monroe, não exatamente o mito, mas a
mulher de personalidade tão fascinante quanto estilhaçada, ressurge no palco do
Viga Espaço Cênico no espetáculo Tempos de Marilyn, escrito pelo
dramaturgo Sérgio Roveri e dirigido por José Roberto Jardim. A partir de um
encontro revelador entre o mito Marilyn e a mulher Norma Jean, seu nome de
batismo, a peça procura dar vozes a dezenas de personagens que falam sobre ou
com Marilyn, entre eles o presidente Kennedy, os fãs inconformados com seu
desaparecimento precoce, os diretores de seus filmes e até sua professora de
interpretação.
Ainda que atemporal, a
história pode se localizar naquela que seria a última noite de Marilyn, quando
a atriz de clássicos como Quanto Mais Quente Melhor, Adorável Pecadora e
O Pecado Mora ao Lado surpreende-se com a visita de uma Norma Jean
disposta a cobrar tudo aquilo de que abriu mão, incluindo aí o próprio corpo, a
história pessoal e as feições do rosto, em prol do surgimento e manutenção da
estrela. Tempos de Marilyn, assim, pode ser visto como um comovente
embate entre criadora e criatura, sem que estejam estabelecidas as fronteiras
que determinam onde começa uma e onde termina a outra.
Figurinos, Direção de Arte e Fotografias
O conceito proposto pela direção é acompanhado pelo tratamento sofisticado que o espetáculo recebeu da direção de arte e figurinos criados por Caio da Rocha e pela fotografia conceitual de Victor Affaro, que também assina o design de luminárias, criadas exclusivamente para o espetáculo. Rocha e Affaro procuraram fugir de todas aquelas imagens que fazem remissão direta ao mito: o cabelo platinado, os lábios vermelhos, as formas exuberantes e provocativas. A Marilyn que surgiu do ateliê de Caio da Rocha e das lentes de Victor Affaro é uma mulher fragmentada, feita de pequenas partes de corpos que tentam vencer a escuridão para ganhar a luz. Nos figurinos e nas fotos, Marilyn nunca se revela em sua totalidade, mas o pouco dela que chega aos olhos é suficiente para explicar porque Marilyn foi Marilyn e as outras foram as outras.
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Croquis de Caio da Rocha |
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Foto de Victor Affaro |